Project Description

Acupuntura

[…] a própria vida é, na realidade, o princípio da doença! Começam por entrar no corpo, através da pele, partículas minúsculas, e todos os médicos de arte aperfeiçoada, os de renome, chamam a esse grupo “doenças obstinadas”. Se não é possível curá-las pela acupuntura, nem mesmo bons remédios lograrão a cura. (Imperador Amarelo)

A acupuntura é uma importante técnica terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa. Com mais de dois mil anos de existência, esta prática consiste na estimulação de pontos específicos do corpo, com pequenas agulhas de metal bem finas, sólidas e flexíveis. Estas agulhas são inseridas a poucos milímetros da pele da pessoa, para equilibrar a energia que circula em canais do corpo, chamados meridianos.

A filosofia Taoísta é a base da Medicina Tradicional Chinesa. Para ambas, todas as coisas,  todos os seres, todos os elementos, todos os órgãos e/ou fenômenos do universo são constituídos por qualidades opostas, duais e interdependentes: o Yin e o Yang.

Nenhum elemento da natureza é totalmente Yin ou totalmente Yang. Estas qualidades não são intrínsecas às “coisas”, elas só podem ser observadas a partir das relações que se estabelecem entre as “coisas”. Por exemplo, o calor pertence ao Yang e o frio ao Yin; podemos dizer, então, que o clima de Campinas é mais Yang do que o clima de Porto Alegre, mas o clima de Porto Alegre é mais Yang em relação ao clima de Toronto, no Canadá.

Apesar de serem qualidades opostas, Yin e Yang constituem faces de uma mesma unidade: o claro e o escuro, a luz e a sombra, a vida e a morte, o feminino e o masculino, o dia e a noite, entre outras. Além disso, estas forças opostas estão em movimento constante e cíclico: o dia se torna noite; a criança envelhece; o que está quente pode esfriar. Tudo é impermanente! Tudo passa e se transforma!

As alternâncias e transformações das forças Yin e Yan que compõem o universo, produzem e criam cinco movimentos, cinco potências ou cinco fases de um mesmo ciclo: a madeira, o fogo, a terra, o metal e a água.

Segundo os antigos pensadores chineses, é possível explicar o mundo a partir das características destes cinco elementos, inclusive o ser humano. Deste modo, a Teoria dos Cinco Elementos (472-221 a.C.) vem complementar a Teoria do Yin e Yang, que fundamenta, até os dias de hoje, a fisiologia, a patologia, o diagnóstico e o tratamento na Medicina Tradicional Chinesa.

Os cinco elementos simbolizam cinco diferentes qualidades e estados inerentes aos fenômenos naturais. Também representam cinco movimentos, cinco estações, cinco sabores, cinco emoções etc..

Todos estes elementos exercem e sofrem influências uns dos/nos outros.  A alteração de um órgão ou víscera por excesso de calor, umidade ou frio, pode alterar outros órgãos ou vísceras. A mudança de estação pode também desencadear algum tipo de doença. A manifestação de uma enfermidade de pele, por exemplo, pode revelar um desequilíbrio do pulmão ou do intestino grosso, ambos relacionados ao elemento metal. A ingestão de um alimento pode aliviar e/ou provocar sintomas de determinadas doenças. Nossas secreções podem indicar nosso estado de saúde, assim como também ajudar a limpar nossa mente e nosso corpo. Emoções em desequilíbrio, como o excesso de raiva ou tristeza, são efeitos ou causas de desequilíbrios em nosso organismo. Cada período do dia, da noite e do ano está associado ao melhor funcionamento de determinados órgãos.

Este rico conhecimento sobre o funcionamento do universo, da natureza e do ser humano, sistematizado e praticado há milênios pela Medicina Tradicional Chinesa, mostra que o indivíduo deve ser compreendido como um todo e não como partes anatômicas isoladas. Somos constituídos por sistemas complexos e nos relacionamos com outros sistemas complexos da natureza. A Medicina Tradicional Chinesa não trata uma doença específica, ela trata o indivíduo como um todo e a forma como ele se relaciona com o mundo. Ela compreende que estamos em constante processo de mudança e transformação.

Se tudo passa e se transforma, poderíamos nos perguntar, então, se a doença também não passa. O Imperador Amarelo, um dos mais importantes pensadores da Antiguidade na China, nos dá algumas respostas para esta pergunta em seu Tratado sobre a Verdade Natural nos Tempos Antigos.

Segundo este sábio, a doença faz parte da vida. Ela é cíclica e impermanente como todos os fenômenos naturais. Entretanto, ele afirma que diferentemente do que faziam homens e mulheres nos tempos antigos, nós deixamos de observar a natureza e respeitar suas leis e princípios. Somos negligentes com nossa saúde e não nos alimentamos de forma equilibrada. Abusamos de vícios e paixões, fazemos usos de diferentes drogas, não cuidados do nosso sono, não praticamos a meditação e tampouco atividades físicas. Também nos expomos, e expomos outros seres vivos a perigos externos e a perigos de nossos próprios pensamentos, atos e palavras. Para o Imperador Amarelo, a falta de observância a estes princípios e cuidados, tornou necessário o uso de medicamentos fitoterápicos e também da acupuntura para a prevenção de doenças e manutenção da saúde.

Os antigos médicos chineses discorreram, então, sobre o corpo humano e sobre seu funcionamento. Separaram  cada uma das vísceras e órgãos, e definiram a origem dos vasos sanguíneos e de todo o sistema vascular. Encontraram seis junções nos pontos onde os vasos sanguíneos e as artérias se encontram e, seguindo o curso de cada uma das artérias, encontram 365 pontos acupunturais. Demonstraram que a estimulação destes pontos reestabelece o fluxo natural da energia e garante a prevenção e a cura de algumas doenças, assim como a saúde do corpo e da mente.

A acupuntura é, portanto,  uma técnica milenar de inserção de agulhas finíssimas em determinados pontos dos meridianos do corpo. Ela é utilizada para tonificar ou suavizar o Yin e o Yang dos órgãos que apresentam falta ou excesso de cada um deles. Ela também ajuda a equilibrar as relações entre os órgãos, vísceras, secreções e emoções, a partir da compreensão do funcionamento do corpo humano, com base na Teoria dos Cinco Elementos e das transformações que eles geram quando entram em desequilíbrio.


REFERÊNCIAS

MACIOCIA, G. Os Fundamentos Da Medicina Chinesa. São Paulo, Rocca, 1996

WANG, B. Princípios Medicina Interna do Imperador Amarelo. Disponível em Textos Clássico da Antiga China, site do Professor André Bueno: http://chines-classico.blogspot.com.br/2007/07/o-tratado-interno.html

Escrito por: Monica Cruvinel